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Mundo sob tensão leva cotação do ouro a disparar, como um investimento seguro
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Em tempos sombrios, nada é mais valioso do que a segurança – inclusive nos investimentos. A compra de ouro disparou desde 2023 e leva a cotação do metal precioso a bater recorde atrás de recorde, impulsionada pela procura não apenas de investidores, como de Bancos Centrais.
A cotação subiu cerca de 13% só neste ano. O movimento reflete o clima de incertezas que toma conta da economia mundial, com inflação persistente, duas guerras importantes em menos de dois anos – na Ucrânia e em Gaza – e a situação fiscal americana preocupante a longo prazo.
“Quando analisamos a situação fiscal americana num horizonte de 20 anos, se continuar assim, temos uma situação um pouco complexa. Por quanto tempo esse país vai continuar com déficit e o mundo financiando esse déficit?”, explica William Castro Alves, economista-chefe da corretora digital Avenue, baseada em Miami. “Há uma correlação entre o déficit dos Estados Unidos e o preço do ouro: ele vai subindo como uma busca de diversificação de reservas.”
Há milênios, o ouro é visto como uma garantia estável e segura, salienta Alessandro Soldati, diretor de uma das líderes mundiais no setor, a Golden Avenue, de Genebra.
“Nós vemos que, há 50 anos, a moeda perde valor, o que nos faz perder poder de compra. Ao mesmo tempo, o ouro continua a manter o seu valor e, mais do que isso, a aumentá-lo”, resume. “Acho que o ouro deve ser visto como uma diversificação dos seus investimentos: colocar 5 ou 10% dos bens em ouro para proteger a poupança. Ele nos dá segurança para poder continuar fazendo outros investimentos com tranquilidade.”
China troca dólares por ouro
As aquisições de investidores chineses e do Banco Central do país, que por 18 meses consecutivos trocou dólares por ouro nas suas reservas, também impulsionam essa alta dos preços. “Os chineses continuam a ser os maiores credores americanos. Mas como é um agente com muitos recursos, quando ele diversifica 10% das reservas, estamos falando de US$ 300 bilhões, um valor gigantesco”, aponta. “Mesmo que esse movimento seja marginal, ele acaba mexendo no preço, chama a atenção.
Outros BCs, como da Índia, Turquia ou Rússia, também sustentam essa demanda. Até agora, o pico histórico foi atingido em maio, a US$ 2.450 onças troy, a medida inglesa para pesar o metal. O valor é o dobro do negociado há quatro anos.
A tendência deve permanecer diante da expectativa de queda das taxas de juros nos Estados Unidos ainda em 2024 – quando os índices caírem, reduzindo também os rendimentos nos títulos americanos, o ouro poderá atrair ainda mais interessados.
“Não podemos saber em qual direção vai continuar a cotação, mas nós estamos com a perspectiva de que as coisas vão piorar no mundo antes de melhorarem. Vamos continuar a ter desvalorização da moeda, a ter riscos geopolíticos importantes, um contexto de incertezas que permanece e pode até aumentar no futuro”, indica Soldati. “Muitas pessoas comparam o Bitcoin ao ouro digital, mas faz cinco mil anos que o ouro é uma referência para todo o mundo. O Bitcoin existe só há 14 e é muito volátil”, compara.
Movimento 'inédito' em lojas de compra e venda
A corrida pelo metal repercute em lojas de compra e venda mundo afora. Na Godot & Fils, uma das lojas mais tradicionais de Paris, um dos diretores, David Knoblauch, nunca viu nada igual.
“Há 10 anos, havia cerca de 10 pessoas que entravam por dia para fazer uma transação, e hoje estamos a 60, às vezes 80 transações diárias. É algo inédito”, conta, à reportagem RFI em francês. “Da abertura da loja até o fechamento, o movimento não para.”
O cliente Jean-Pierre é um deles: ao ler as notícias sobre a alta da cotação do ouro, convenceu a família a se desfazer de algumas peças. Por um anel, um colar e um par de brincos, recebeu € 440.
“Trago joias antigas de famílias que estavam guardadas numa gaveta. Nós concordamos que chegou a hora de vendê-las. Não serviam mais para ninguém e com o dinheiro vamos aproveitar com os nossos filhos, nossos netos”, afirma o cliente. “O ouro é um ativo seguro e essa era uma boa oportunidade de vendê-lo.”
Certificação de autenticidade e origem
Alessandro Soldati, da Golden Avenue, chama atenção para os riscos que a operação pode envolver, em uma cadeia que começa nas minas – nem sempre legais –, passa pelas refinarias e só depois chega à comercialização, uma etapa que também pode ser bastante fracionada. Para evitar golpes, é preciso estar atento às certificações internacionais de autenticidade e origem do produto.
“Sempre que alguém propuser ouro a um preço menor que o valor do mercado, você deve suspeitar. Talvez a origem deste ouro não seja tão limpa quanto o vendedor diz”, ressalta o especialista.
Além do ouro físico, outras possibilidades de investimentos no metal são em fundos de ouro ou mineradoras negociados na Bolsa de Valores.
Com Bruno Faure e Stéphane Geneste, da RFI
202 حلقات
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Em tempos sombrios, nada é mais valioso do que a segurança – inclusive nos investimentos. A compra de ouro disparou desde 2023 e leva a cotação do metal precioso a bater recorde atrás de recorde, impulsionada pela procura não apenas de investidores, como de Bancos Centrais.
A cotação subiu cerca de 13% só neste ano. O movimento reflete o clima de incertezas que toma conta da economia mundial, com inflação persistente, duas guerras importantes em menos de dois anos – na Ucrânia e em Gaza – e a situação fiscal americana preocupante a longo prazo.
“Quando analisamos a situação fiscal americana num horizonte de 20 anos, se continuar assim, temos uma situação um pouco complexa. Por quanto tempo esse país vai continuar com déficit e o mundo financiando esse déficit?”, explica William Castro Alves, economista-chefe da corretora digital Avenue, baseada em Miami. “Há uma correlação entre o déficit dos Estados Unidos e o preço do ouro: ele vai subindo como uma busca de diversificação de reservas.”
Há milênios, o ouro é visto como uma garantia estável e segura, salienta Alessandro Soldati, diretor de uma das líderes mundiais no setor, a Golden Avenue, de Genebra.
“Nós vemos que, há 50 anos, a moeda perde valor, o que nos faz perder poder de compra. Ao mesmo tempo, o ouro continua a manter o seu valor e, mais do que isso, a aumentá-lo”, resume. “Acho que o ouro deve ser visto como uma diversificação dos seus investimentos: colocar 5 ou 10% dos bens em ouro para proteger a poupança. Ele nos dá segurança para poder continuar fazendo outros investimentos com tranquilidade.”
China troca dólares por ouro
As aquisições de investidores chineses e do Banco Central do país, que por 18 meses consecutivos trocou dólares por ouro nas suas reservas, também impulsionam essa alta dos preços. “Os chineses continuam a ser os maiores credores americanos. Mas como é um agente com muitos recursos, quando ele diversifica 10% das reservas, estamos falando de US$ 300 bilhões, um valor gigantesco”, aponta. “Mesmo que esse movimento seja marginal, ele acaba mexendo no preço, chama a atenção.
Outros BCs, como da Índia, Turquia ou Rússia, também sustentam essa demanda. Até agora, o pico histórico foi atingido em maio, a US$ 2.450 onças troy, a medida inglesa para pesar o metal. O valor é o dobro do negociado há quatro anos.
A tendência deve permanecer diante da expectativa de queda das taxas de juros nos Estados Unidos ainda em 2024 – quando os índices caírem, reduzindo também os rendimentos nos títulos americanos, o ouro poderá atrair ainda mais interessados.
“Não podemos saber em qual direção vai continuar a cotação, mas nós estamos com a perspectiva de que as coisas vão piorar no mundo antes de melhorarem. Vamos continuar a ter desvalorização da moeda, a ter riscos geopolíticos importantes, um contexto de incertezas que permanece e pode até aumentar no futuro”, indica Soldati. “Muitas pessoas comparam o Bitcoin ao ouro digital, mas faz cinco mil anos que o ouro é uma referência para todo o mundo. O Bitcoin existe só há 14 e é muito volátil”, compara.
Movimento 'inédito' em lojas de compra e venda
A corrida pelo metal repercute em lojas de compra e venda mundo afora. Na Godot & Fils, uma das lojas mais tradicionais de Paris, um dos diretores, David Knoblauch, nunca viu nada igual.
“Há 10 anos, havia cerca de 10 pessoas que entravam por dia para fazer uma transação, e hoje estamos a 60, às vezes 80 transações diárias. É algo inédito”, conta, à reportagem RFI em francês. “Da abertura da loja até o fechamento, o movimento não para.”
O cliente Jean-Pierre é um deles: ao ler as notícias sobre a alta da cotação do ouro, convenceu a família a se desfazer de algumas peças. Por um anel, um colar e um par de brincos, recebeu € 440.
“Trago joias antigas de famílias que estavam guardadas numa gaveta. Nós concordamos que chegou a hora de vendê-las. Não serviam mais para ninguém e com o dinheiro vamos aproveitar com os nossos filhos, nossos netos”, afirma o cliente. “O ouro é um ativo seguro e essa era uma boa oportunidade de vendê-lo.”
Certificação de autenticidade e origem
Alessandro Soldati, da Golden Avenue, chama atenção para os riscos que a operação pode envolver, em uma cadeia que começa nas minas – nem sempre legais –, passa pelas refinarias e só depois chega à comercialização, uma etapa que também pode ser bastante fracionada. Para evitar golpes, é preciso estar atento às certificações internacionais de autenticidade e origem do produto.
“Sempre que alguém propuser ouro a um preço menor que o valor do mercado, você deve suspeitar. Talvez a origem deste ouro não seja tão limpa quanto o vendedor diz”, ressalta o especialista.
Além do ouro físico, outras possibilidades de investimentos no metal são em fundos de ouro ou mineradoras negociados na Bolsa de Valores.
Com Bruno Faure e Stéphane Geneste, da RFI
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